sexta-feira, 23 de junho de 2023

Os Efeitos Pedagógicos do Sofrimento

Texto base “Considero que os nossos sofrimentos atuais, não podem ser comparados com a glória que em nós será revelada” (Rm 8.18).

Introdução

Muitos não entendem o porquê do sofrimento e se debatem em questionamentos que colocam em cheque a bondade de Deus. Ora, dizem: ‘se Deus é bom, porque permite o sofrimento’. Porém, o próprio Jesus nos advertiu de que no mundo teríamos aflições (Jo 16.33). Mas, também, nos estimulou a termos bom ânimo porque, da mesma forma que Ele venceu o mundo, nós também,  seríamos mais que vencedores em Cristo Jesus.  A vida é um campo de batalhas onde cada um tem que lutar, dia após dia para vencer suas guerras e sobreviver. Há no entanto, aquelas situações que nos pegam de surpresa, das quais não estamos preparados para o seu enfrentamento. Nessas horas, nos sentimos impotentes e frágeis. Somos lançados no deserto onde não há nada e nem ninguém que possa nos trazer consolo ao coração. Nesse período, passamos da desolação e desespero para uma outra fase, o da rendição. A pergunta que fazemos é a mesma que o salmista em seus momentos de angústia disse: |”de onde virá o meu socorro? “ – E ele mesmo percebe que só há uma resposta: “\o meu socorro virá do Senhor que fez os céus e a terra” (Sl 121.1-2).  É nesses momentos que trazemos à lembrança quem é o Deus a quem servimos. Ele é o Deus todo poderoso que nos socorre em nossos momentos de aflições. É Ele quem nos fortalece e nos ajuda na travessia por mais difícil que seja. Na maioria das vezes, Ele não retira os obstáculos – assim como foi com Daniel, jogado na cova dos leões -, mas permanece ao nosso lado nos sustentando e nos dando livramentos. E por que Ele não impede que o mal nos cerque? Esse é o tema dessa pequena reflexão.

 

Por que sofremos?

Digamos que o sofrimento é aquele remédio amargo que ninguém gosta de tomar, mas é necessário para curar um mal maior ainda, que é a enfermidade.  Deus nos ama e deseja o melhor para nós, Ele, como Pai zeloso, cuida de nossas enfermidades muitas vezes imperceptíveis a nós mesmos. Ele deseja a nossa cura, a nossa restauração completa. Somos por natureza rebeldes e ignoramos as coisas que são essenciais para a nossa saúde espiritual. Vivemos a vida satisfazendo o nosso ego e negligenciando e deixando de lado aspectos que nos impede de ter uma vida plena com Deus. Como médico dos médicos, o Senhor não fica indiferente à necessidade de tratamento em áreas especificas da nossa alma. Nesse sentido, somos submetidos a tratamentos intensivos e dolorosos cujo objetivo é a nossa cura e purificação e restauração.

 

Purificados no fogo

“O ouro e a prata são provados pelo fogo, mas é o SENHOR quem revela quem as pessoas são, realmente”( Pv.17.3).

Da mesma forma que o ourives faz para purificar o ouro colocando-o na fornalha para que os fragmentos agregados ao material precioso sejam retirados, assim, somos provados no fogo das aflições para que esses resquícios do homem velho sejam extirpados de nossas vidas para que possamos compreender a vida numa perspectiva de transitoriedade. Somos preciosos aos olhos do Senhor e por isso Ele nos trata, nos restaura e nos consola. Nada é definitivo aqui neste mundo. Estamos de passagem, como diz Pedro, ‘peregrinos’ nesta terra (1Pe. 2.11). Precisamos olhar para o Alto e vivermos de conformidade com os propósitos de Deus enquanto aqui ainda estivermos. Assim, o sofrimento cumpre o papel pedagógico de nos ensinar, instruir e advertir sobre nossa conduta, nossa postura enquanto cidadãos dos Céus. Desta forma, precisamos ser confrontados pela Palavra para que possamos perceber os desalinhos em nossa vida e nos ajustarmos aos propósitos de Deus.

 

As duas perspectivas sobre o sofrimento

Amados, não vos assusteis com a provação que surge entre vós, como fogo ardente, com o objetivo de provar a vossa fé. Não entendais isso como se algo estranho vos estivesse acontecendo”(1Pe.4.12).

Não estamos isentos de passarmos por trechos difíceis em nossa caminhada. Precisamos compreender, no entanto, os motivos pelos quais somos submetidos a essas provações. A falta de compreensão nos leva à murmuração e inconformidade. E não é esse o propósito de Deus. O apóstolo Pedro nos aponta pelo menos duas razões para sermos submetidos ao sofrimento. O primeiro, para que a nossa fé seja provada, como foi no caso de Jó. E a segunda, para a nossa edificação pessoal e crescimento espiritual.

No primeiro caso, Pedro deixa claro que existem provações que estão relacionadas ao fato de sermos cristãos: “se vocês são insultados por causa do nome de Cristo, felizes são vocês pois, o Espírito da glória, o Espírito de Deus repousa sobre vocês” (1Pe 4.14). Em graus diferentes, o cristão não é bem visto neste mundo porque as trevas se opõe à luz. Então, é obvio que haverá rejeições,  perseguições e discriminações, mesmo que de  forma velada ou até mesmo de forma mais ostensiva.

Desde à antiguidade até os dias atuais, o cristão que investe o seu tempo no Reino de Deus, de alguma forma sente na pele essa oposição no que se refere à propagação do Evangelho. No campo missionário, as perseguições são mais intensas, chegando à prisões e até mesmo à morte. A esse respeito,  Marin Luther King, um grande arauto do Evangelho disse: “se você não está pronto para morrer por alguma coisa, então, você não está pronto para viver” . O próprio Cristo deixou claro essa questão quando disse: “se alguém quiser me seguir, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e me acompanhe”(Mt.16.24; Mc 8.24; Lc. 9.23). Fica evidente que a vida cristã implica em renúncias e sofrimentos.

Se esses requisitos não forem evidentes, talvez seja porque ainda não compreendemos o verdadeiro papel do cristão e ainda estamos andando de mãos dadas com o mundo, não nos distinguindo do mesmo. Será que as pessoas com quem você convive no trabalho, na faculdade ou em outro ambiente sabem que você é cristão? Onde você tem colocado a sua candeia? Cristo deixa claro que aquele que não cumpre tais requisitos, não está apto para segui-LO (Lc.14.27). Cabe a você fazer essa avaliação de si mesmo quanto a sua efetiva participação no Reino de Deus.

Por outro lado, àqueles que estão no campo de batalha, enfrentando as suas lutas por causa de Cristo, o apóstolo Pedro traz uma palavra de consolação dizendo: “contudo, se sofre como cristão não se envergonhe, mas glorifique a Deus por meio desse nome” (1Pe 4.16). Seguir a Cristo nunca foi fácil. O próprio Jesus disse, referindo-se a Paulo, no que diz respeito ao chamado que a ele fora confiado: “pois eu lhe mostrarei o quanto lhe importa sofrer pelo meu nome” (At. 9.16 ARA). Sofrer por amor a Cristo tem o esplendor da esperança da glória que está reservada àqueles que perseverarem até o fim (Cl.1.5). Ao contrário de um atleta que se prepara e se dedica a um treinamento exaustivo para conquistar uma medalha perecível, o cristão por sua vez, luta e se desgasta por uma recompensa que será  para sempre (1 Co. 9.25) e isso é glorioso.

 

O sofrimento como elemento purificador

Existe, por outro lado, como já foi dito no início deste texto,  o sofrimento que tem por objetivo a purificação, a correção de nossas imperfeições. O sofrimento existe, isto é fato. E ele acomete tanto o ímpio quanto o crente. A sua origem decorre do pecado original que abriu as portas para que o mal sobreviesse sobre a humanidade.  Ninguém, portanto, está isento de passar por adversidades. A questão é, como lidamos quando o sofrimento bate à nossa porta? Dizem alguns, que o sofrimento amolece o coração, mas nem sempre é assim. Há os que endurecem ainda mais.

Esse comportamento de negação só vai acentuar ainda mais as feridas e a necessidade de tratamento que pode se tornar mais prolongado.  Mas, é inegável que a dor produz em nós uma transformação que de outra forma não seria possível.  Ninguém sai de uma crise do mesmo jeito que entrou, por mais terrível que seja a situação.

Na vida do cristão, o sofrimento, segundo o apóstolo Paulo produz algo excelente: “ porque a nossa leve e momentânea tribulação produz, para nós, um peso de glória mui excelente” (2Co. 4.17). Sabemos que a vida terrena é um sopro e que a eternidade nos aguarda. Tudo que sofremos aqui é passageiro, mas se o resultado desse sofrimento nos habilitar a termos um relacionamento melhor com Deus, então, nesse sentido, o sofrimento cumpriu com seu propósito.  O apóstolo Paulo, nos ensina que as tribulações  produzem em nós a perseverança com base  na esperança que temos na vida eterna e disso resulta  em um caráter aprovado, forjado pelo Espírito Santo (Rm.5.3-5).

Podemos entender com isso que o sofrimento atua como um elemento pedagógico em nossas vidas. O fato é que nós temos muita facilidade em percebermos as falhas dos outros e não conseguimos identificar em nós, as nossas próprias imperfeições. E, por conta disso, nos acomodamos e seguimos em frente sem nos atentarmos quanto a necessidade que temos de uma mudança em nosso caráter e em nosso modo de viver. Deus nos conhece muito bem e sabe, exatamente, onde  e em que área precisamos ser tratados.

A bíblia nos ensina que “Deus corrige a quem ama e disciplina a todo aquele que recebe como filho (Hb. 12.6). Portanto, como filhos amados, somos educados por Deus e impelidos pelo Seu amor a termos uma vida condizente com os seus ensinamentos. Nesse sentido, a nossa postura deve ser de submissão. O livro de Provérbios reforça a questão de como devemos agir diante da disciplina que nos é imposta: “Filho meu, não desprezes a disciplina do SENHOR, nem te magoes com a Tua repreensão; pois o SENHOR, disciplina a quem ama assim como um pai faz ao filho a quem deseja o bem”(Pv. 3.11-12).


A Escola do Deserto

Quando lançados no deserto, sem muitas distrações ao nosso redor, somos constrangidos a olharmos para nós mesmos e então, conseguimos perceber as nossas falhas, por menor que sejam. Nos deparamos, muitas vezes, com atitudes que revelam em nós um coração orgulhoso e egoísta, dentre outras posturas das quais, em situações normais nos esquivaríamos de observar. Na maioria das vezes, procuramos justificar as nossas atitudes erradas e, ao invés de nos arrependermos, continuamos alimentando comportamentos repreensíveis sob argumentos equivocados que satisfazem nosso ego. Essas atitudes funcionam como |âncoras que nos impede de voos mais alto no sentido espiritual. Adoecemos sem percebermos e, na maioria das vezes, adoecemos as pessoas que convivem conosco.

Diante de tudo que aprendemos, podemos entender que o deserto é lugar de solidão e provação, lugar de recolhimento e introspecção, uma escola que nos proporciona ensinamentos profundos quanto a necessidade de nos purificarmos para termos uma vida saudável com Deus. O escritor de Hebreus nos adverte de que “sem santidade ninguém verá a Deus”(Hb. 12.14). Isso implica em um processo de purificação no fogo, ou seja, só acontece em meio às provações. Podemos concluir que a nossa permanência no deserto só depende da nossa capacidade de renunciarmos a nós mesmos para seguirmos a Cristo.

É interessante quando percebemos quão grandioso é o amor de Deus por nossas vidas, porque mesmo nos forjando em situações adversas, Ele jamais nos abandona, Ele caminha conosco em meio ao deserto e nos sustenta em nossas fraquezas para que não venhamos a sucumbir: “também no deserto, vocês viram como o SENHOR, o vosso Deus, os carregou, como um pai carrega o seu filho, por todo caminho que percorreram até chegarem a este lugar” (Dt. 1.31).

Deus nos ama acima de tudo e deseja o melhor para nós. Se Ele nos coloca na disciplina é porque existe algo que precisa ser tratado no particular conosco. Que sejamos humildes para reconhecer as nossas imperfeições e, também, percebermos a necessidade que temos de nos submeter ao tratamento necessário para o nosso aperfeiçoamento, conduzido pelo nosso PAI, o Senhor, nosso Deus.

Sonia Oliveira


Veja aqui alguns dos Estudos disponíveis no Arquivo do blog:

  1. ISamuel - Resposta ao chamado de Deus
  2. Juizes - Período Teocrático 
  3. Sansão - Exemplo de Imaturidade 
  4. Gideão - Um Homem Revestido de Poder 
  5. Abimeleque - Ambição Sem Limites 
  6. José do Egito 
  7. Josué e Calebe - Enfrentando o Gigante do Medo 
  8. Josué - A Derrota de Ai 
  9. Palavra de Deus - Uma Mensagem Transformadora 
  10. Evangelizar é Preciso! 
  11. A Vontade Soberana de Deus 
  12. O Espírito Santo a Terceira Pessoa da Trindade 
  13. Páscoa Cristã 
  14. Dons Espirituais 
  15. Missões com Excelência - A boa semente
  16. É Tempo de Despertar 
  17. Epístola aos Filipenses
  18. Virando as Costas para Deus
  19. A Oração de Habacuque
  20. Os Frutos do Espirito
  21. Jabez a Oração que Mudou uma Historia
  22. Os Escolhidos de Deus
  23. Compromisso com Deus
  24. Compromisso com a Verdade
  25. A Família sob Ataque
  26. Ageu a Reconstrucao do Templo
  27. Jonas a Misericordia de Deus
  28. Davi um Coração Quebrantado Diante de Deus
  29. Amor o Maior Mandamento
  30. Renovação Espiritual
  31. Como ser Forte nos Momentos de Fraqueza
  32. Elias Relacionamento e Dependência de Deus
  33. Colossenses Supremacia de Cristo
  34. Um Convite á Graça e Restauração
  35. Nova Criatura em Cristo
  36. Apressa-te Senhor em me Ajudar
  37. A Boa Mão de Deus Sobre Mim
  38. Naamã o Mergulho na Graça de Deus
  39. Asafe o Perigo de Perder o Foco
  40. Aprendendo a Ser Dependente de Deus
  41. Jó a Essência da Adoração
  42. Saber Esperar no Senhor
  43. Livro de Habacuque (Vídeo) - parte 1
  44. Livro de Habacuque (Vídeo) - parte 2
  45. Livro de Habacuque (Vídeo) - parte 3
  46. Livro de Habacuque (Vídeo) - parte 4 
  47. Livro de Habacuque (Vídeo) - parte 5
  48. Epístola aos Colossenses (Vídeo) - Introdução
  49. Santificação